O Globo – 16/02/2024
Rio receberá 354 mil doses entre final de fevereiro e começo de março, quando será iniciada a imunização da população de 10 a 14 anos
A vacinação contra dengue para o público de 10 a 14 anos está prevista para iniciar na capital entre o final de fevereiro, provavelmente dia 28, e a primeira semana de março, de forma escalonada, começando por meninos de meninas de 10 e 11 anos. A expectativa é ir avançando gradativamente as faixas de idade, conforme forem chegando as 354 mil doses que serão destinadas pelo Ministério da Saúde, para o Rio. O processo é semelhante ao que aconteceu com a da Covid-19. Antes mesmo do início do calendário de imunização, a prefeitura começou , nesta sexta-feira, a vacinar moradores da região de Guaratiba, na Zona Oeste. A ação faz de um estudo destinado a testar a eficácia da vacina entre os adultos.
O foco do estudo é vacinar 20 mil moradores da região de Guaratiba – engloba também Pedra de Guaratiba, Barra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba – na faixa etária de 18 a 40 anos. Os voluntários foram selecionados num grupo total de 130 mil pessoas. O local foi escolhido por conta da alta incidência de casos – dos mais de 24 mil registros esse ano na capital, 1.427 ocorrências foram naquela região. O outro motivo da escolha, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, é pelas características do lugar.
—Guaratiba é uma região incrível do Rio de Janeiro, mas tem uma alta incidência de dengue. E tem uma vantagem, que é uma população que não migra muito, que não é fechada. Essa população também tem um bom registro nos prontuários eletrônicos das equipes de saúde da família e, além disso, tem a característica da maioria da população brasileira, e é uma área em que a gente tem 3 sorotipos do vírus da dengue — explicou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, acrescentando que a pesquisa feita lá é parecida com a que foi aplicada no Complexo da Maré e na Ilha de Paquetá, durante a pandemia da Covid-19.
Como no outro estudo, os participantes se ofereceram de forma voluntária. A vacina será aplicada em duas doses no intervalo de 90 dias, somando 40 mil aplicações. O estudo terá duração de dois anos, com resultados parciais nos períodos de seis, 12, 18 e 24 meses. Nesse tempo, os pesquisadores colherão informações para observar a diferença de comportamento do vírus entre os vacinados e não vacinados com o imunizante Qdenga. A vacinação acontece na unidade Mourão Filho, até o dia 24. A partir dessa data, uma nova abertura da campanha acontece para toda a região.
A primeira moradora vacinada com o imunizante aplicado pelo secretário municipal de saúde foi a autônoma Pauliane Soares, de 32 anos, que ainda não teve dengue. Ela disse que se sentiu privilegiada por participar do estudo e agradecida pela pesquisa começar por uma região onde tem muitos focos do Aedes aegypti.
— É um privilégio grande participar dessa pesquisa. Foi uma surpresa grande quando a agente de saúde me ligou ontem confirmando minha participação. Não tenho casos na família, mas conheço pessoas que tiveram (dengue). Agora me sinto mais segura e estou na expectativa de receber a segunda dose — aprovou.
Gláucia Mazeliah de Oliveira, de 37, também foi vacinada. Ela conta que não teve dengue, mas disse que agora se sente mais segura. O mesmo dizem a microempreendedora Tatiana Alves de Farias, de 40 anos, e a estudante Isabelle Archanjo, de 23.
—Soube ontem à noite que havia sido escolhida para participar da pesquisa e fiquei gratificada. A gente se sente mais segura. Daqui a três meses volto para a segunda dose — disse.
O estudo que está sendo realizado com voluntários em Guaratiba é uma parceria entre a Prefeitura do Rio, Ministério da Saúde e Fundação Oswaldo Cruz. Uma comitiva de representantes do ministério participaram do lançamento do estudo com a aplicação das primeiras vacinas numa pousada da região.
— O estudo com o público de 18 a 40 anos vai nos auxiliar na tomada de decisão para ampliação da faixa etária. As evidências científicas que serão geradas aqui no Brasil poderão também auxiliar nas tomadas de decisão em nível global. Essa é a faixa etária que temos o maior número de caros, não só no Rio de Janeiro, mas também no Brasil. Então, é importante compreender como essa vacina funciona nesse grupo. Nesse momento a gente adotou por critério técnico do nosso setor de imunização (vacinar na campanha) a faixa etária de 10 a 14 anos — explicou Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, do Ministério da Saúde.
Ela explicou ainda que ser monodose (cada frasco contem apenas uma vacina) faz com que a produção do imunizante seja mais lenta. Ethel Maciel, disse ainda que ao todo serão distribuídos para os estados, que farão repasses para os municípios, 6 milhões de doses para 3 milhões de pessoas na faixa de 10 a 14 anos. Assim como os participantes do estudo, o público mais hovem, também receberá duas doses da vacina, sempre com o mesmo intervalo.
O Rio de Janeiro já acumula mais de 24 mil casos sob suspeita de dengue em 2024. O número já é maior que o de ocorrências em todo o ano de 2023, que totalizou 23 mil ocorrências. Até o momento já foram registradas duas mortes. O caso mais recente foi de um morador de Senador Camará, que contraiu dengue hemorrágica. O estado do Rio de Janeiro já totaliza quatro óbitos.
— É muita coisa. A gente nunca teve um número de casos tão grande no mês de janeiro. Foi o maior da nossa história. Normalmente em abril e maio são os meses de maior incidência. Não sei se foi uma antecipação (de casos) por conta de mudanças climáticas, dias de calor e chuva somados a dengue 1, 2 , 3 e 4 circulando ou se já é o início de uma curva. Mas a gente está preparado — garantiu Soranz
Os sintomas da dengue são: febre alta, dores nas articulações, dores atrás dos olhos e manchas na pele. O atendimento de saúde deve ser procurado para evitar que os casos não se agravem e combater os focos de mosquito.
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