O Dia/Opinião – 30/05/2023
Quando o novo INCA foi projetado, a construção estava orçada em quase R$ 500 milhões. A obra parou no governo Dilma e foi ignorada por Temer e Bolsonaro
Em julho completam 11 anos que o prédio do Hospital Central do Iaserj, na Praça da Cruz Vermelha, foi posto abaixo. A demolição era a primeira etapa do projeto que prometia dar ao Brasil um novo campus para o Instituto Nacional do Câncer (INCA). A construção do novo Inca era a realização do sonho de uma geração inteira de oncologistas, sanitaristas e militantes do Sistema Único de Saúde (SUS). Infelizmente, passado tanto tempo, esse sonho não se concretizou.
A obra parou ainda em 2012. Demoliram um hospital de referência para o estado, com mais de 400 leitos, e só. Até o momento, o terreno está vazio, cheio de mato, gastando recursos de manutenção do Inca para, pelo menos, evitar a proliferação de vetores que tragam riscos à saúde.
A situação é gravíssima! Pelo impasse com o bem público e pela oferta de oncologia no estado. O tratamento oncológico reduz a cada ano, por falta de investimento dos governos passados, que levou a rede federal à atual situação de precariedade, incluindo o INCA, referência para o Brasil em assistência e pesquisa do câncer. As filas para quimioterapia e radioterapia estão imensas.
Hoje, temos nos hospitais da rede municipal – com perfil de atender emergências, baixa e média complexidades – muitos leitos ocupados por pacientes oncológicos. São pais, mães, filhos que deveriam estar recebendo o tratamento especializado no novo Inca. Mas, infelizmente, ele ainda é um sonho. O tratamento do câncer continua disperso nas quatro unidades do instituto, em hospitais federais e universitários que, como bem sabemos, sofrem com falta de estrutura e profissionais.
Tudo isso repercute em leitos fechados e redução das vagas para procedimentos especializados. Leitos que poderiam receber aqueles pais, mães e filhos que lotam hospitais municipais. Procedimentos que dariam esperança às famílias, porque o câncer não atinge só o paciente, mas todos os que estão a sua volta e sofrem com ele, ainda mais quando o tratamento não chega.
Quando o novo INCA foi projetado, a construção estava orçada em quase R$ 500 milhões. A obra parou no governo Dilma e foi ignorada por Temer e Bolsonaro. E não foi por falta de recursos, mas sim de gestão. De 2019 a 2022, R$ 2,2 bilhões foram para o lixo em medicamentos e vacinas vencidos. Só de vacinas contra a covid-19 foram 39 milhões de doses perdidas. Com este valor, dava para construir o novo INCA e reformar os hospitais federais.
O presidente Lula tem agora a oportunidade de mudar essa história. Em audiência na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados em abril, questionei a ministra Nísia Trindade sobre planos para a retomada da construção do novo INCA. A ministra Nísia é grande defensora do SUS, conhecedora da situação e desafios da Saúde pública no país. Como presidente da Fiocruz, se debruçou sobre muitos temas e, à frente do Ministério da Saúde, está empenhada em avançar na solução dos problemas.
Destaco também a competência do diretor-geral do INCA, Roberto de Almeida Gil, nomeado em fevereiro. No instituto, ele já chefiou o Serviço de Oncologia Clínica e coordenou o Programa de Residência Médica. Também já presidiu a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. É um gestor comprometido com o desafio que assumiu, sobretudo para a retomada da construção do novo INCA. Vamos acompanhar!
Veja também: Medicamentos: governos desperdiçam R$ 1 a cada R$ 3 gastos