Hospital Pedro II faz primeiro transplante de pele com corpos doadores; conheça técnica para queimaduras

Pele
Foto: Edu Kapps/SMS

O Globo – 16/01/2025

Unidade recebeu habilitação para realizar o ‘post mortem’, tratamento inovador em pacientes queimados; primeiro procedimento foi realizado nesta quinta-feira

O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Pedro II (HPMII), em Santa Cruz, na Zona Oeste no Rio realizou nesta quinta-feira, seu primeiro transplante de pele “post mortem”. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), um é um método inovador de tratamento de pacientes queimados que consiste na implantação de tecido epitelial captado de corpos de doadores.

Até o momento, a técnica estava disponível apenas nas redes federal e privada. O serviço passou a ser disponibilizado no HMPII após a unidade receber habilitação da Central Estadual de Transplantes.

Nesta quinta, o primeiro paciente a receber transplante de pele post mortem foi um homem de 27 anos que ficou com queimaduras profundas nos membros superiores e inferiores após sofrer uma descarga elétrica de alta tensão. De acordo com a SMS, o procedimento durou cerca de três horas e foi concluído sem intercorrências.

O transplante de pele post mortem (ou aloenxerto) é indicado para “pacientes com lesões extensas e profundas, em que não há tecido saudável suficiente para enxertos autólogos, ou seja, retirados do próprio paciente. Trata-se de uma solução temporária que permite estabilizar pacientes até que enxertos definitivos possam ser realizados, reduzindo riscos e aumentando as chances de recuperação. O método também pode ser usado em casos de queimaduras de terceiro grau, úlceras de difícil cicatrização e cirurgias reconstrutivas complexas”, explica a SMS.

Ainda segundo a secretaria, entre os benefícios do transplante de pele post mortem estão “a proteção contra infecções (já que a pele humana funciona como uma barreira biológica natural), a redução da perda de líquidos e calor, a preservação da função da derme e a estabilização do quadro clínico até a implantação do enxerto definitivo”. Além disso, por apresentar maior biocompatibilidade do que curativos sintéticos ou de origem animal, “o aloenxerto proporciona melhores condições para a cicatrização e reduz as chances de complicações graves, já que dispensa a necessidade de cirurgias adicionais no paciente durante a fase inicial do tratamento”.

Para Carolina Junqueira, chefe do Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Pedro II, o credenciamento da unidade para a realização do transplante de pele post mortem é um avanço para toda a rede pública de saúde do Rio de Janeiro.

— A doação de pele, assim como a de órgãos, é um ato de generosidade que salva vidas. A conscientização sobre essa prática é essencial para ampliarmos o acesso a tratamentos que fazem a diferença em situações críticas — afirma a médica.

Segundo a SMS, a captação do tecido que será usado no procedimento ocorre em unidades credenciadas, após a autorização da família do doador falecido, e segue protocolos rigorosos para garantir a qualidade e a segurança do material biológico. Após retirada, a pele é enviada a bancos de tecidos especializados vinculados à Central Estadual de Transplantes, onde é submetida a análises microbiológicas e procedimentos de preservação antes de ser disponibilizada para os hospitais.

Já a regulação do transplante segue normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e pela Central Nacional de Transplantes. Assim como em outros transplantes, existe uma fila organizada com critérios que priorizam pacientes mais graves e com maior urgência, garantindo que o tecido seja destinado a quem mais precisa. Com o novo credenciamento, o HPMII passa a estar autorizado a realizar o transplante de pele post mortem nos pacientes da rede municipal de saúde.

O CTQ do Hospital Pedro II conta com um total de 21 leitos, sendo nove de tratamento intensivo, sete de enfermaria e cinco de pediatria. Desde o ano passado, a unidade também realiza o tratamento de queimaduras com laserterapia. O HMPII também se prepara para implementar o uso de xenoenxertos, como a pele de tilápia.

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