O Globo | Daniel Becker – 23/08/2023
CIE é capaz de identificar as situações de agravo de saúde pública rapidamente, permitindo agilidade na tomada de decisões estratégicas da SMS
O Centro de Inteligência Epidemiológica (CIE) da Prefeitura do Rio de Janeiro é uma iniciativa pioneira, que vem fazendo um incrível sucesso, com razão. Eu assisti seu nascimento em março de 2022, como membro voluntário do Comitê de Especialistas no Enfrentamento às Emergências em Saúde Pública da cidade.
O CIE é coordenado pela Superintendência de Vigilância em Saúde da SMS e foi criado com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Seu trabalho é o monitoramento e avaliação do cenário epidemiológico na cidade. Ele é capaz de identificar as situações de agravo de saúde pública rapidamente, permitindo agilidade na tomada de decisões estratégicas da SMS. Isso é fundamental para a proteção da saúde dos cariocas.
O CIE já desenvolveu mais de 50 produtos. Um dos que mais me encantou foi o GeoVacina Rio, ferramenta que permite georreferenciar a cobertura vacinal das regiões da cidade e identificar as localidades onde estão as crianças com situação vacinal em atraso. A partir disso, as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) podem localizar as residências das famílias para fazer a busca ativa dessas crianças, atualizando as cadernetas de vacinação.
Essa iniciativa faz parte dos esforços da Secretaria Municipal de Saúde para resgatar as coberturas vacinais na cidade e já obteve um aumento de 15% nas regiões onde foi testado. Em maio, 134 postos de saúde tinham uma cobertura da vacina pentavalente menor que 80%, considerada baixa. Três meses depois, com a busca ativa, o número caiu para 44. No primeiro semestre, 100 postos da cidade tinham mais de 80% das crianças vacinadas; agora já são 173 postos com essa cobertura. Apenas duas unidades de saúde tinham cobertura de 95% em maio; agora já são vinte. Com isso, a cobertura da vacina triviral, que protege contra o sarampo, cachumba e rubéola, aumentou de 79% pra 91% em três meses.
O CIE recebeu mais de 50 visitas de representantes de órgãos nacionais e internacionais, como Ministério da Saúde – que já desenvolve um projeto de CIE Nacional – Fiocruz, Organização Mundial da Saúde (OMS), Senado Americano e CDC (Center for Disease Control and Prevention) dos EUA. A OPAS deve aproveitar a experiência do CIE e do GeoVacina Rio em 10 outras cidades brasileiras este ano e, posteriormente, ampliar a implementação do modelo nas 50 maiores cidades da América Latina.
Além da inovação, produzindo importantes modelos de monitoramento epidemiológico, fundamentais para a vigilância em saúde e para a resposta a emergências de saúde pública, o CIE promove a transparência em dados de saúde pública. É importante que a população saiba se e quando há situações de risco, e o que o poder público está fazendo para controlá-las.
Outra ótima notícia é o lançamento do Programa Vacina na Escola, uma iniciativa conjunta das secretarias municipais de Saúde e Educação.
Um dos motivos para a não vacinação é a dificuldade de algumas famílias conseguirem chegar aos postos, por causa das longas horas de trabalho e no trânsito. O programa vai oferecer vacinas em todas as unidades de educação infantil e do ensino fundamental, além de creches e Espaços de Desenvolvimento Infantil. Os pais podem acompanhar os alunos se quiserem; caso não seja possível, podem enviar com o aluno um termo de autorização assinado, junto com a caderneta de vacinação. Se a criança não tiver o documento, o responsável deve regularizar a situação em sua clínica da família ou centro municipal de saúde.
O programa também está aberto a parcerias com escolas particulares, que podem solicitar a adesão nos canais de prefeitura.
Iniciativas como essas projetam o Rio na vanguarda da saúde no país. Além de aumentar nossa cobertura vacinal, resgatam o orgulho de ser carioca.
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