Secretário de Saúde detalha como será aplicação do Ozempic no Rio e qual é o público-alvo

Ozempic
Secretário de Saúde sobre Ozempic: Daniel Soranz confirma planos de aplicação de medicamento para emagrecimento; obesos e diabéticos são público alvo — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Extra | Jurema – 14/10/2024

Daniel Soranz confia na quebra de patente em 2026 para diminuição no custo do medicamento; titular da pasta fala também sobre a erradicação da dengue e anuncia novos Super Centros de Saúde e hospitais veterinários na cidade

Com o prefeito Eduardo Paes (PSD) reeleito para seu quarto mandato, euzinha decidi fazer um voo sobre um tema muito importante para a cidade: a saúde. Em visita ao Super Centro de Vacinação, em Botafogo, na Zona Sul, fui recebida pelo secretário Daniel Soranz, responsável pela pasta e também por me vacinar contra a gripe. Um Zé Gotinha feito de crochê testemunhou o momento. Afinal, todos precisam se imunizar: quem tem mais de 6 meses de vida pode receber o imunizante em clínicas da família e centros municipais de saúde (CMS).

Nesta entrevista, o secretário municipal de Saúde dá “bicadas” na segurança pública estadual e no Ministério da Saúde, além de explicar como será a aplicação de Ozempic — remédio usado no tratamento de diabetes, mas que também atua no emagrecimento — na rede pública municipal. Depois do anúncio feito pelo prefeito em entrevista para esta coluna há duas semanas, Soranz detalha quais serão os grupos prioritários para receber o medicamento quando a aplicação for possível. O secretário também não fugiu de outros temas importantes, como a erradicação da dengue e os preparativos para o calor.

Ema Jurema recebe vacina contra a gripe das mãos do secretário Daniel Soranz — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Ozempic: ‘Não é questão de estética’

O foco da Secretaria municipal de Saúde é a disponibilização do princípio ativo do Ozempic, a Semaglutida, assunto em discussão na pasta há dois anos. O planejamento, que não seria divulgado agora, só se tornou público porque euzinha consegui arrancar a informação com exclusividade do prefeito.

— É verdade esse bilhete. Não estamos falando da marca, mas do princípio ativo. Pode ser que, de fato, a patente seja quebrada em 2026, o que vai baratear muito os custos — diz Soranz, que já esteve na Dinamarca, visitando a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic.

Diferentemente de Paes, que revelou ter perdido 30 quilos usando o medicamento, Soranz afirma que nunca o utilizou, apesar de reconhecer sua importância. Ele pontua que a distribuição na rede só será feita para quem tiver recomendação médica.

— Tem um público específico. Obviamente tem que estar associado ao diabetes e à obesidade. O carioca tem uma expectativa de vida de 77 anos, superior à expectativa da população americana, por exemplo, de 76 anos. E o principal problema de saúde pública que eles têm é a obesidade. Se a gente não cuidar disso aqui, teremos muita dificuldade que a nossa população viva mais e melhor. Não é uma questão de estética — completa o secretário, que pontua que a negociação a nível “nacional seria muito melhor que do ponto de vista de um ou poucos municípios”.

Acompanhamento médico, cuidados com alimentação e prática de exercícios também são importantes, ressalta Soranz, que frisa que “não é só o medicamento que resolve obesidade”.

Evolução na vacinação

Apesar da evolução da vacinação contra a poliomielite, que agora passará a ser injetável, e não mais em gotas, o Zé Gotinha seguirá trabalhando firme e forte. Soranz diz que, “fruto de muito planejamento”, a febre amarela e a rubéola também foram erradicadas e, por isso, cobra que o país consiga fazer o mesmo com outras doenças.

— A gente vai ter a vacina para tuberculose, que precisa ser incorporada e que vai fazer muita diferença. É muito importante que a gente amplie a vacinação para o HPV e tenha um planejamento de quando vai vacinar toda a população (hoje, o público-alvo é de 9 a 19 anos), igual aos países desenvolvidos: muitos já zeraram o número de casos de câncer de colo de útero, de cânceres ligados ao HPV, e a gente também precisa fazer isso — afirma Soranz. — Tem que ter um planejamento estruturado para que a gente, um dia, possa falar para a nossa população quando vamos erradicar a dengue.

Com cartão de vacinação na mão: Ema Jurema é vacinada — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Dengue

Soranz pontua que a erradicação da dengue “precisa ser feita” e que isso depende de planejamento do Ministério da Saúde. As visitas a residências e a comunicação são apontadas como maneiras eficazes de combate pelo secretário, que cita ainda outras formas:

— O método Wolbachia, que estamos utilizando em parceria com o Ministério da Saúde, é uma bactéria que contamina o mosquito e evita que o vírus da dengue se prolifere dentro dele. Já está sendo usado em Tubiacanga, na Ilha, e ampliamos para a região central do Rio. Outra frente de prevenção é o teste da vacina em Guaratiba, bairro com maior incidência de dengue na cidade, em que estamos vacinando todos de 6 a 59 anos — observa Soranz, que espera que a pesquisa realizada na Zona Oeste ajude o país a decidir sobre vacinar toda a população. — A gente tem uma oportunidade de apresentar um planejamento estruturado para isso nos próximos dois anos.

Super Centros de Saúde

Depois de inaugurar em 2022 o Super Centro Carioca de Saúde, em Benfica, na Zona Norte, uma das promessas do prefeito Eduardo Paes em sua campanha deste ano foi a ampliação dessas unidades.

Soranz se orgulha porque pesquisa Datafolha de agosto apontou que o Super Centro é bem avaliado: 68% dos entrevistados deram notas 9 ou 10 para o equipamento.

— Por que é tão bem avaliado? Porque é uma estrutura com muita tecnologia, que tem atendimento super humanizado, funciona em rede com as unidades básicas de saúde e reduziu expressivamente a fila do sistema de regulação, de 140 para 75 dias — explica Soranz.

Ainda sem considerar esse tempo de espera o ideal, o secretário justifica a necessidade de dois novos Super Centros, um na Zona Oeste e outro na Zona Norte:

— A gente vai incorporar os serviços de hemodiálise, assim como a fisioterapia e reabilitação cardíaca, além da saúde auditiva.

Hospitais veterinários

Enquanto Marcelo Queiroz (PP), um dos adversários de Paes na campanha, tinha os animais como bandeira, o secretário enumera que a gestão do atual prefeito trabalha sob a lógica de “saúde única”.

Como medidas implementadas, Soranz menciona que o Instituto Jorge Vaitsman, na Mangueira — que já teve atuação voltada em exterminar animais que podiam colocar em risco a saúde humana no passado — foi reformado neste ano e transformado no primeiro hospital veterinário público do Rio.

— Estamos mudando o conceito de saúde animal, trabalhando com o conceito de saúde única: quando a gente protege os animais, também estamos protegendo a saúde humana — observa Soranz.

As duas próximas unidades serão em Santa Cruz, onde o Instituto de Zoonoses será transformado em hospital veterinário (inauguração prevista em um ano e meio), e em Irajá, promessa para o primeiro semestre de 2025. Ansiosa estou.

Prefeitura inaugurará hospitais veterinários em Santa Cruz e Irajá — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Calor

Os protocolos de calor — criados seis meses depois que Ana Clara Benevides, de 23 anos, morreu de “exaustão térmica” durante um show da cantora Taylor Swift, no Estádio Nilton Santos — são ressaltados por Soranz como maneiras de proteger a população em episódios extremos. Na prática, a prefeitura pode suspender atividades e eventos em caso de calor intenso.

É importante, ressalta o secretário, que as pessoas se mantenham hidratadas em casa ou no trabalho, por exemplo. Mas explica que as unidades de saúde estão preparadas para receber pacientes que passarem mal nesses momentos:

— Se a pessoa tiver numa situação de desidratação intensa, pode procurar qualquer unidade de saúde do Rio, principalmente clínicas da família ou centros municipais de saúde, que estão preparados para fazer soro de hidratação oral e também uma hidratação venosa, que muitas vezes é necessária. Essas ações salvam vidas.

Usuários de drogas

De acordo com Soranz, foram mapeados mais de 100 pontos de venda de crack na cidade, em levantamento das secretarias de Assistência Social e de Saúde.

— Quando a gente vê uma pessoa em situação de rua que vendeu tudo, que está roubando fios e fazendo de tudo para obter a droga, tem alguém se beneficiando daquilo — afirma Soranz, observando que “não há cracolândia onde não tenha um traficante ganhando dinheiro em cima do sofrimento alheio”. O secretário diz que o município já denunciou a situação à Polícia Civil do Rio.

—Inclusive, dois pontos de venda de crack são do lado da sede da Polícia Civil, na Rua dos Arcos, esquina com a Rua do Lavradio, e até agora a gente não tem uma operação para coibir isso — afirma Soranz, lembrando que os entorpecentes vêm de fora do estado. — Não tem sistema de saúde pública que vai dar conta sozinho se a gente não tiver esse tipo de cuidado.

Veja também: Eduardo Paes visita clínica na Rocinha e promete construção de seis novas unidades de saúde

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