Edgard Travassos recebeu alta do Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio, no dia 1º deste mês, cinco meses após dar entrada na unidade com um quadro grave de Covid-19. Com 33 anos e sem comorbidades, o corretor de imóveis passou, depois de se contaminar, por duas intubações, duas paradas cardíacas, uma traqueostomia, hemodiálise e duas microcirurgias. Teve de permanecer no hospital mesmo após se curar da infecção: o longo período de hospitalização ficou marcado em sua pele com uma grande escara no cóccix, tipo de lesão comum em quem fica acamado por muito tempo, que lhe impedia de andar. Por um mês e 20 dias, o paciente passou por um processo de reabilitação que lhe devolveu a maior parte de suas funções motoras — embora elas ainda estejam sendo recobradas, pouco a pouco.
As sequelas de Covid-19 se mostram um problema emergente de Saúde Pública. No município do Rio, entre janeiro e outubro, o número mensal de solicitações por uma consulta de pneumologia motivadas por quadros de pós-Covid saltaram de 91 para 263, apontam dados do Sistema de Regulação da prefeitura (Sisreg). O índice, embora continue alto, teve uma pequena queda entre outubro e setembro, que teve o maior acumulado de pedidos pendentes da série histórica: 397. Nesse mesmo período, o tempo médio de espera para o procedimento saltou de 55 para 93 dias.
No Ronaldo Gazolla, o número de pacientes que necessitaram de tratamento representa pouco mais de 10% dos 9.777 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) notificados pelo hospital durante a pandemia, segundo registros do sistema de informações em saúde da Secretaria municipal de Saúde (SMS). A porcentagem corresponde às estimativas da prefeitura para a quantidade de pessoas curadas da Covid que vão precisar de tratamento para sequelas da doença este ano — mais de 27 mil pacientes, considerando o número total de infecções ocorridas em 2021.
Solução para o gargalo
Para desfazer o gargalo no Sisreg, uma empreitada que envolve diversas especialidades médicas e procedimentos de diferentes graus de complexidade, a prefeitura resolveu montar no Ronaldo Gazolla o Centro de Reabilitação Pós-Covid, uma seção de assistência ambulatorial voltada para pacientes com sequelas da doença, inclusive aqueles com passagem por outros hospitais. A previsão é que a nova ala seja inaugurada em dezembro.
— Identificamos a necessidade de criar esse ambulatório porque a demanda está muito alta — explica o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. — Imaginamos que pelo menos 10% das pessoas que tiveram Covid vão precisar de algum acompanhamento posterior. Mas esse número pode ser maior. Entre as sequelas mais comuns, estão o comprometimento da função pulmonar e dificuldades motoras, além de insufiência renal e hepática.
Fonte: O Globo